11 de janeiro de 2013

Depois de esquecer, se lembrou de lembrar.


Tinha perdido as contas de quantas vezes seus recados haviam sido deixados de lado, de quantas vezes suas tentativas haviam sido em vão. De quantas vezes tinha passado por cima do seu orgulho, do que as pessoas achavam ser um erro, e corrido atrás do que apenas ela acreditava ser verdadeiro. Perdeu as contas de quantas vezes ficara acordada à noite esperando o seu celular vibrar, esperando por uma mensagem, um simples “olá”, que fosse. Também tinha perdido as contas de quantas vezes havia desistido e usado o espelho para brigar, se livrar de todos os sentimentos presos, de todas as palavras entaladas na garganta. Esqueceu também das vezes que havia deitado em sua cama e se imaginado dizendo tudo o que sempre desejou, colocando um ponto final em todas as tardes vazias, acompanhadas de uma lágrima ou outra nos olhos, após ver um final feliz no programa de televisão, imaginando a hora em que aconteceria com ela também. Não se lembrava de quantas vezes tinha afundado a cabeça no travesseiro e pedido para acalmarem o seu coração. Esqueceu-se das vezes em que acordara prometendo um novo dia, mas voltando aos mesmos erros depois. Esqueceu-se de quantas músicas deixou de escutar para não lembrar, de quantos filmes não teve coragem de assistir. Esqueceu-se de quantas vezes escrevera cartas e mais cartas e não teve coragem de enviar. Guardou-as em uma caixa para o caso de um dia sua coragem chegar. Esqueceu-se também das vezes em que se imaginara largando tudo e indo embora apenas para esquecer. Assim como também se esqueceu dos dias em que desejou a felicidade dele e que ele não sentisse a saudade que ela sentia, pois, se nela doía de arrancar pedaço, não queria isso para outro alguém. Mas, esqueceu também das vezes em que tinha sido esquecida, em que tinha sido jogada de lado e substituída, mesmo com todas as juras de que ela era diferente das outras, de que era a menina mais bonita do mundo, com o melhor coração.

Porém, depois de tanto esquecer, lembrou-se de olhar para si mesma e de ver quantas vezes havia desperdiçado e quantas coisas repetitivas lhe fizeram mal. Lembrou-se também de todos os sorrisos que foram guardados e poderiam ter feito outras pessoas felizes.

Lembrou-se de respirar, e de como a vida era bonita e das tantas coisas que ela ainda teria para aproveitar. Lembrou-se também de que quem gosta fica, fica sem desculpas, fica por querer estar junto, fica por admiração, fica, pois não há nada: lugar, pessoas, mudanças ou qualquer outra coisa que impeça de ficar. E se deu conta que, por pior que tenha sido, tudo não passara de uma boa mentira. 

GD.