Tinha perdido as contas de quantas vezes seus recados haviam
sido deixados de lado, de quantas vezes suas tentativas haviam sido em vão. De
quantas vezes tinha passado por cima do seu orgulho, do que as pessoas achavam
ser um erro, e corrido atrás do que apenas ela acreditava ser verdadeiro.
Perdeu as contas de quantas vezes ficara acordada à noite esperando o seu
celular vibrar, esperando por uma mensagem, um simples “olá”, que fosse. Também
tinha perdido as contas de quantas vezes havia desistido e usado o espelho para
brigar, se livrar de todos os sentimentos presos, de todas as palavras
entaladas na garganta. Esqueceu também das vezes que havia deitado em sua cama
e se imaginado dizendo tudo o que sempre desejou, colocando um ponto final em
todas as tardes vazias, acompanhadas de uma lágrima ou outra nos olhos, após
ver um final feliz no programa de televisão, imaginando a hora em que
aconteceria com ela também. Não se lembrava de quantas vezes tinha afundado a
cabeça no travesseiro e pedido para acalmarem o seu coração. Esqueceu-se das
vezes em que acordara prometendo um novo dia, mas voltando aos mesmos erros
depois. Esqueceu-se de quantas músicas deixou de escutar para não lembrar, de
quantos filmes não teve coragem de assistir. Esqueceu-se de quantas vezes
escrevera cartas e mais cartas e não teve coragem de enviar. Guardou-as em uma
caixa para o caso de um dia sua coragem chegar. Esqueceu-se também das vezes em
que se imaginara largando tudo e indo embora apenas para esquecer. Assim como
também se esqueceu dos dias em que desejou a felicidade dele e que ele não
sentisse a saudade que ela sentia, pois, se nela doía de arrancar pedaço, não
queria isso para outro alguém. Mas, esqueceu também das vezes em que tinha sido
esquecida, em que tinha sido jogada de lado e substituída, mesmo com todas as
juras de que ela era diferente das outras, de que era a menina mais bonita do
mundo, com o melhor coração.
Porém, depois de tanto esquecer, lembrou-se de olhar para
si mesma e de ver quantas vezes havia desperdiçado e quantas coisas repetitivas
lhe fizeram mal. Lembrou-se também de todos os sorrisos que foram guardados e
poderiam ter feito outras pessoas felizes.
Lembrou-se de respirar, e de como a vida era bonita e das
tantas coisas que ela ainda teria para aproveitar. Lembrou-se também de que
quem gosta fica, fica sem desculpas, fica por querer estar junto, fica por
admiração, fica, pois não há nada: lugar, pessoas, mudanças ou qualquer outra
coisa que impeça de ficar. E se deu conta que, por pior que tenha sido, tudo
não passara de uma boa mentira.
GD.