12 de dezembro de 2013

Pedaços

A meio segundo de explodir, aguarda o momento em que todas as coisas voarão e se espalharão. Talvez ela consiga recuperar os cacos, talvez não. Seria necessária uma reconstrução completa, perfeita, o que não irá acontecer. Talvez ela consiga preencher os buracos, dar uma nova roupagem a si mesma, com outros planos, outros caminhos como alternativa, mas com os mesmos sonhos. Pobres sonhos. Um dia, quem sabe, ela os tire de dentro da caixa, novamente, mais vivos do que nunca, mais sonhados como nunca.

GD.

3 de junho de 2013

Talvez você se lembre

O que te vem na cabeça antes de dormir? Será que você se lembra do primeiro sorriso que eu te dei e que logo depois viraram dois e três? Será que você se lembra da primeira carona? Do primeiro recado de boa-noite? Da primeira música de sofá?

Talvez você se lembre da minha versão do início da história. De como a sua versão encaixava com a minha e a gente ria de como esse acaso feito por acaso se tornou caso que deu certo.

Será que às vezes antes de você dormir vem à sua cabeça a lembrança do cheiro do meu perfume, como vem à minha a lembrança do seu? De como te abraçar fazia o mundo parar e me deixar ficar ali ou simplesmente te guardar em um potinho pra não precisar te deixar. 

Será que antes de você dormir, você se lembra dos lugares onde a gente comentou que um dia gostaria de ir? Que a gente até combinou de um dia simplesmente arrumar as malas e fugir?

Talvez você se lembre do cafuné atrás da nuca que eu te fazia e você dizia gostar. De como o meu carinho era bom e de como aquilo te fazia querer me roubar.

Talvez você se lembre. Talvez, simplesmente, não. Mas não se preocupe, pois antes de você partir, eu te fiz a promessa, mesmo que em silêncio, de sempre me lembrar por nós dois.

GD.

22 de maio de 2013

Extremos


Existem vários tipos de relacionamentos. Entre eles, os que duram pra sempre. Aqueles que são um contrato perante Deus, em que existem duas pessoas que honram esse juramento, entendem que a vida não é um mar de rosas, mas que são exemplos de amor, paixão, de muito empenho e trabalho em equipe. Pois amar de verdade é isso, lutar junto, pela família e pelo amor.

E tem também aqueles relacionamentos que possuem data de validade, que perdem e começam a feder aos poucos. E muitos casais deixam o relacionamento vencer, o deixam na margem de segurança, até que chega o dia em que o verdadeiro efeito acontece e faz mal, faz muito mal. Corrói por dentro, te deixa vulnerável a qualquer doença melancólica ou louca do tipo: vontade de destruir alguém, destruir a sua vida, chorar até secar, ficar louco e compulsivo, um chorão, dramático e excessivo.

Aquele tipo de relacionamento, também, faz pensar que você é dependente do outro, que sem ele você não é nada, que não conseguirá ser nada. Que faz pensar que não conseguirá se reerguer, se manter inteiro, se completar de outras maneiras. É aquele tipo de relacionamento doentio, porém consciente. No qual você sabe tudo o que faz e acontece, mas prefere cultivar o mofo e esquece que o relacionamento não é do tipo gorgonzola, no literal, bom e podre.

E ele destrói, até acabar, até alguém ceder e absorver a verdadeira decepção. Até sobrar apenas um, sozinho, com milhares de perguntas sem respostas e indignações por ter confiado em alguém que, infelizmente, achava que conhecia.

Somos tão bons na arte de representar burros ingênuos.

GD.

7 de maio de 2013

Luta diária.


Sua vida deu uma pausa. As coisas começaram a ficar mais leves, talvez pelo peso dos seus estudos terem saído das suas costas. Dos amores mal resolvidos terem achado uma solução. Ela estava mais leve de alma, mas não de coração. Engraçado como, nunca, nada está completo, sempre falta alguma coisa. E nela faltava a vontade de viver. De se encontrar, de realizar sonhos, de ter amores bem resolvidos, desses que faz suspirar. Seu coração pede pressa, mas sua alma pede calma. Uma luta diária sem vitória, apenas continuação. 

GD.

1 de fevereiro de 2013

A senhora e o não-peso na consciência.


     Sete horas da manhã do primeiro dia de fevereiro. Não me assustei quando vi o ônibus lotado. Já era de se esperar todo aquele tumulto matinal. Pessoas correndo para no final do mês ter o que comer em casa ou não. Estava custando a me segurar e, como na última semana os dias de verão têm mais cara de outono e já não se sabe mais quando vai chover, levava o meu guarda-chuva. E como ninguém se dispôs a perguntar se eu queria ajuda, eu balançava. Na minha frente, estavam sentadas uma senhora e uma moça, que levantou para dar seu lugar a uma outra senhora que entrara no ônibus. E seguimos adiante. Eu com meus pensamentos, balançando pra lá e pra cá, e todo o resto de gente que se amontoava procurando por espaço.
     Paramos no próximo ponto e outra senhora entrou pela porta do meio, olhei para os lados esperando por alguém que se levantasse, e nada. Olhei ao meu redor e não vi nenhuma reação. Minto, vi sim: Ao alcance dos meus olhos, duas mulheres que estavam em pé ao meu lado, indignadas. E havia também um casal sentado. O rapaz, com o uniforme de uma empresa de telemarketing e a moça que estava ao seu lado, totalmente escorada, com uma cara de “quem comeu e não gostou”. Fiquei totalmente impressionada com a maneira como eles reagiram ao ver a senhora. Fingiram que não viram. E como se fingir não ver o que está na sua frente mudasse alguma coisa no mundo. Não tenho nada contra pessoas que trabalham com telemarketing, mas, elas ficam sentadas o dia inteiro. Enfim. Passaram mais cinco pontos de ônibus e faltando um para chegar ao Terminal, destino de quase todos, vi um acento vazio. Voltei para a senhora que estava ao meu lado e disse:
_ Ali tem um lugar vazio senhora, não quer se sentar?
     E ela me respondeu com uma carinha de agradecimento:
_Muito obrigada, mas agora já está quase chegando.
     Entendi o porquê dela não querer se sentar, afinal, depois de vinte minutos em pé, mais dois minutos não fariam diferença alguma. Mas, para mim fizeram. Voltei-me para ela outra vez e disse com a voz um pouco mais alta do que costumo usar:
_ Impressionante como ninguém cede o lugar, não é mesmo?
     Ela deu um sorriso e me respondeu com um tom sutil de ironia:
_ É uma juventude muito cansada, minha filha.
     Eu dei uma risada discreta e respondi:
_ É verdade. E capaz que nem a consciência pesa.
     E ela, muito bem-humorada, e mais uma vez um pouco irônica, me respondeu:
_ Se tiverem consciência, não é mesmo? Mas, não me importo, pois eles irão passar por tudo o que eu passei. E a vida se encarrega de dar o que cada um merece, consequente a cada atitude que tiverem.
     Olhei para os olhos dela que brilhavam cheios de energia e, mesmo com todo aquele tumulto e acontecimento, felizes. O ponto final chegou, desejei um bom dia para aquela senhora que muito lembrava minha avó e segui o meu rumo, às sete e vinte da manhã, no meio de tantas pessoas, como ela bem disse: cansadas e praticamente perdidas.


GD.