1 de fevereiro de 2013

A senhora e o não-peso na consciência.


     Sete horas da manhã do primeiro dia de fevereiro. Não me assustei quando vi o ônibus lotado. Já era de se esperar todo aquele tumulto matinal. Pessoas correndo para no final do mês ter o que comer em casa ou não. Estava custando a me segurar e, como na última semana os dias de verão têm mais cara de outono e já não se sabe mais quando vai chover, levava o meu guarda-chuva. E como ninguém se dispôs a perguntar se eu queria ajuda, eu balançava. Na minha frente, estavam sentadas uma senhora e uma moça, que levantou para dar seu lugar a uma outra senhora que entrara no ônibus. E seguimos adiante. Eu com meus pensamentos, balançando pra lá e pra cá, e todo o resto de gente que se amontoava procurando por espaço.
     Paramos no próximo ponto e outra senhora entrou pela porta do meio, olhei para os lados esperando por alguém que se levantasse, e nada. Olhei ao meu redor e não vi nenhuma reação. Minto, vi sim: Ao alcance dos meus olhos, duas mulheres que estavam em pé ao meu lado, indignadas. E havia também um casal sentado. O rapaz, com o uniforme de uma empresa de telemarketing e a moça que estava ao seu lado, totalmente escorada, com uma cara de “quem comeu e não gostou”. Fiquei totalmente impressionada com a maneira como eles reagiram ao ver a senhora. Fingiram que não viram. E como se fingir não ver o que está na sua frente mudasse alguma coisa no mundo. Não tenho nada contra pessoas que trabalham com telemarketing, mas, elas ficam sentadas o dia inteiro. Enfim. Passaram mais cinco pontos de ônibus e faltando um para chegar ao Terminal, destino de quase todos, vi um acento vazio. Voltei para a senhora que estava ao meu lado e disse:
_ Ali tem um lugar vazio senhora, não quer se sentar?
     E ela me respondeu com uma carinha de agradecimento:
_Muito obrigada, mas agora já está quase chegando.
     Entendi o porquê dela não querer se sentar, afinal, depois de vinte minutos em pé, mais dois minutos não fariam diferença alguma. Mas, para mim fizeram. Voltei-me para ela outra vez e disse com a voz um pouco mais alta do que costumo usar:
_ Impressionante como ninguém cede o lugar, não é mesmo?
     Ela deu um sorriso e me respondeu com um tom sutil de ironia:
_ É uma juventude muito cansada, minha filha.
     Eu dei uma risada discreta e respondi:
_ É verdade. E capaz que nem a consciência pesa.
     E ela, muito bem-humorada, e mais uma vez um pouco irônica, me respondeu:
_ Se tiverem consciência, não é mesmo? Mas, não me importo, pois eles irão passar por tudo o que eu passei. E a vida se encarrega de dar o que cada um merece, consequente a cada atitude que tiverem.
     Olhei para os olhos dela que brilhavam cheios de energia e, mesmo com todo aquele tumulto e acontecimento, felizes. O ponto final chegou, desejei um bom dia para aquela senhora que muito lembrava minha avó e segui o meu rumo, às sete e vinte da manhã, no meio de tantas pessoas, como ela bem disse: cansadas e praticamente perdidas.


GD.