6 de janeiro de 2011

O incurável

Escuto o celular tocar freneticamente como se não houvesse amanhã. Uma voz que eu conhecia, mas fiz questão de apagar da memória, dizia do outro lado um olá que fez meu corpo arrepiar. Não me recordo quando foi a última vez que a escutei, e pra falar a verdade prefiro não lembrar.
A ligação durou no máximo 10 segundos, o suficiente para o ouvinte do outro lado escutar apenas minha respiração, um pouco mais rápida do que o normal. Durante este pequeno intervalo de tempo o alfabeto desapareceu, e o que aprendi durante todos esses 20 anos foram parar ralo abaixo.
Nunca senti tanta dificuldade de pronunciar qualquer palavra que fosse em toda minha pequena existência. Porém, tudo o que não tive coragem de dizer, minha cabeça fez questão de transformar em pensamentos e imagens que claramente recordei como se fosse ontem. E o que minha boca não conseguiu falar, o meu silencio expressou por si só. O suficiente para mostrar o quanto ainda dói.
Dez segundos depois meu dedo encerrou a ligação, deixando o outro lado em vão. E o que pude tirar de lição dessa aventura a curto prazo, é que o tempo seleciona o que ele vai tampar primeiro, porém não cura nada. Ele apenas deixa uma cicatriz para tirar o incurável do centro das atenções.

GD.