9 de março de 2011

Sobre os dias chuvosos

Ahh a chuva! Aqueles pequenos pingos que clamam por chocolate quente, boa companhia, filme e cobertor. Aquelas gotinhas que fazem o bem, águam as plantas, deixam tudo fresquinho e com carinha de novo. Ahh a chuva...

O primeiro parágrafo teria continuação se eu não estivesse praticamente EMBOLORADA de tanta chuva. Eu sei que faz um bem danado, mas pelo amor de Deus, minha bolsa nas ultimas semanas virou um quite salva-vidas com direito a: “Aqui tem tudo o que você precisa, sombrinha, capas de chuva multicoloridas, remos, botes, e muito mais”, estou pior do que propaganda das Casas Bahia. Você deve estar pensando: “Nofa que menina revoltada”. É porque não é você que depende da linda Mercedes Benz, também conhecida como transporte público, vulgo ônibus ou ons.

Acordo toda serelepe e felix, arrumo o bebelinho, tomo café da manhã, pego minhas coisas, abro a porta de casa e está chovendo. Tudo bem, não é a toa que tenho guarda-chuva. O primeiro passo para fora de casa é a catástrofe em pessoa. O vento marca 600km por hora, meu tênis já está meio ensopado, a sombrinha, que serve para salvar apenas aquele pedaço do cabelo conhecido como franja, teima em querer virar e os dois braços que Deus me deu viram quatro. Imagine a cena: uma mão segura o cabo da sombrinha que ao mesmo tempo prende a bolsa na frente da barriga que tenta não molhar. A outra mão segura uma haste que quer virar a qualquer custo e quando vejo estou praticamente emborcada para frente como se fosse derrubar alguém com o meu super escudo protetor à La Eric, o cavaleiro do desenho “A Caverna do Dragão”. Mas para o meu alivio o ponto do ons fica só a um quarteirão.

Espero ansiosamente sua chegada. O primeiro freio espirra pequenas gotículas de água na minha calça, que já não são nada comparadas a cor do meu tênis. Lá dentro está tudo muito quente e abafado, abafado, abafado, uma sauna ambulante. Sim, o cheiro de gente molhada, cabelos com condicionador, o fedozinho quase que insuportável da querida alma que não toma banho já faz dias. E canpensquinão: TUIN! Sim, a franja que com muito cuidado e muito sofrimento mantive intacta dando a minha vida até um segundo atrás, estava toda enrolada. Nesse momento facas, mortes, decapitações passam pela minha cabeça, mas eu sou forte, eu consigo. Vamos lá, respiro, inspiro e estou calminha.

Lá se foi o primeiro ônibus, e depois de muito sofrer no segundo, como se já não bastasse, uma poça d’água e um carro a toda velocidade finalizam minha triste e aventureira caminhada até o trabalho. No final, a cheirosinha e limpinha chega à agência com a meia toda ensopada, a calça jeans que era lisa agora toda trabalhada na estampa militar e para completar o look do dia aquele coque podrinho no alto da cabeça. E você me pergunta: “Mas como você tem coragem de ir trabalhar assim?” E eu te respondo: “Escolha entre me dar um carro ou ir tomar um belo banho na soda (pois eu sou educada)”.

E é assim, que termino todos os meus santos dias de chuva com a certeza de que quando eu bater na porta do paraíso, São Pedro irá me dar passagem direta para o céu com direito de ficar à direita de Deus pai todo poderoso, por que olha vou te contar, essa minha vida tirana não é mole não.

Ai quando falo que minha rotina são contos hollywoodianos, neguinho não acredita em mim.


GD.